Crianças e adolescentes estão mais adoecidos mentalmente?

Ansiedade, depressão, autolesão… Esses termos, infelizmente, têm se tornado cada vez mais comuns quando falamos da infância e da adolescência. Muitos pais, mães e profissionais que acompanham jovens se perguntam: por que estamos vendo tantos casos assim? O que está acontecendo com nossos filhos?

A verdade é que não há uma resposta única. Mas um estudo recente publicado no periódico Child and Adolescent Mental Health traz uma reflexão importante: o local onde crescemos — cidade ou campo — pode impactar profundamente a saúde mental.

Viver na cidade adoece?

O artigo de Wiers e colaboradores (2025) mostra que pessoas que vivem em ambientes urbanos têm mais chances de desenvolver transtornos mentais como ansiedade, depressão e dependência química. E isso não é coincidência.

Áreas urbanas concentram diversos fatores de risco:

  • Maior exposição ao estresse, tanto físico quanto emocional;

  • Poluição e barulho constantes, que afetam o funcionamento do cérebro em desenvolvimento;

  • Sensação de insegurança, especialmente em bairros mais vulneráveis;

  • Menor suporte social, com menos conexões de cuidado e pertencimento.

Esses elementos, quando combinados, criam um ambiente propício ao adoecimento — especialmente para crianças que crescem em contextos de pobreza ou pertencem a grupos minoritários. Os impactos podem começar ainda na gestação e se prolongar por toda a vida.

Fugir da cidade resolve?

Não necessariamente. As cidades também oferecem recursos valiosos: oportunidades educacionais, acesso à saúde, diversidade, espaços de convivência. O problema está no desequilíbrio — na forma como organizamos nossa rotina, nos sobrecarregamos, negligenciamos o descanso e normalizamos a agitação constante.

O estudo destaca que, especialmente na adolescência, o ambiente urbano pode ser positivo quando há espaços seguros, acolhimento, vínculos e chances reais de participação social. O desafio é garantir que esses benefícios sejam acessíveis a todos, e não apenas a uma parcela privilegiada da população.

E o que podemos fazer?

Mais do que mudar de cidade, precisamos mudar a forma como vivemos. Isso vale para famílias, escolas e políticas públicas. Algumas ideias:

  • Criar rotinas mais leves, com tempo para descanso, conversa e vínculo;

  • Oferecer apoio parental de qualidade, especialmente em comunidades mais vulneráveis;

  • Valorizar a saúde mental desde cedo, nas escolas e nos atendimentos de saúde;

  • Investir em urbanismo que acolhe, com espaços verdes, seguros e integradores.

Sobretudo, precisamos ensinar os jovens a priorizar o bem-estar — e dar o exemplo.


📚 Referência:
Wiers, R. W., El Marroun, H., Bockting, C., & Krugers, H. (2025). Debate: Urban versus rural environments – which is better for mental health? Child and Adolescent Mental Health, 30(2), 189–191. https://doi.org/10.1111/camh.12771