TDAH e alterações sensoriais: o que a ciência está nos mostrando agora

Quando falamos de alterações sensoriais, muitas pessoas associam imediatamente ao autismo. Mas um estudo recente e robusto mostra que isso também precisa ser olhado com atenção no TDAH.

Pesquisadores realizaram uma revisão sistemática com meta-análiseisso significa que eles reuniram os dados de diversos estudos sobre o tema, somando informações de mais de 5 mil pessoas com TDAH. O objetivo? Investigar se alterações no processamento sensorial estão mesmo presentes nesse grupo.

E a resposta foi clara: sim, estão.

O que são essas alterações sensoriais?

São respostas atípicas aos estímulos do ambiente. Pode ser uma hipersensibilidade — como se incomodar muito com sons, luzes ou texturas — ou uma hipossensibilidade — quando a pessoa parece não perceber certos estímulos ao redor. Também pode haver uma busca intensa por sensações: tocar objetos o tempo todo, buscar movimentos constantes, morder canetas, balançar na cadeira, etc.

O estudo mostrou que indivíduos com TDAH têm alterações em vários domínios sensoriais, como:

  • Sensibilidade auditiva, tátil e visual aumentadas

  • Registro sensorial reduzido (demoram a perceber certos estímulos)

  • Maior busca por estímulos sensoriais

  • Evitação de sensações incômodas, como etiquetas na roupa ou certos cheiros

Essas alterações foram observadas tanto em crianças quanto em adultos, embora com algumas diferenças nos perfis. E mais: muitos dos estudos incluídos relataram que essas características sensoriais impactam o funcionamento diário, interferindo na atenção, na regulação emocional e até nas interações sociais.

Por que isso é importante?

Porque ainda é comum que profissionais ignorem esse aspecto durante a avaliação ou intervenção. O TDAH costuma ser visto apenas pelos sintomas comportamentais — como desatenção, agitação ou impulsividade — e nem sempre o perfil sensorial é investigado.

Mas, veja bem:
🔹 E se a agitação for, na verdade, uma forma da criança buscar estímulos para se manter alerta?
🔹 E se a dificuldade de atenção vier da baixa percepção dos estímulos ambientais?
🔹 E se a evitação de determinadas atividades for motivada por um desconforto sensorial?

Essas questões mudam o olhar clínico. E mudam também o tipo de intervenção que será mais eficaz.

A saúde mental é complexa. E o diagnóstico nunca pode ser feito de forma simplista ou descontextualizada.


📚 Referência científica:
Jurek, L. et al. (2025). Sensory Processing in Individuals With Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder Compared to Control Populations: A Systematic Review and Meta-Analysis. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry. https://doi.org/10.1016/j.jaac.2025.02.019